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Arquitetos: Ana Cláudia Monteiro + Vítor Oliveira ; Ana Cláudia Monteiro + Vítor Oliveira
- Área: 249 m²
- Ano: 2010
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Fotografias:José Campos
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa localiza-se na Rua do Lindo Vale, na cidade do Porto. É um edifício de 2 frentes e 3 pisos, construído num lote com 5 m de frente e 40 m de profundidade. Quatro características fundamentais caracterizam esta obra. A primeira é o facto de os arquitetos serem também os clientes da obra. O desenho da Casa do Arquiteto é sem dúvida um desafio singular na projetação do programa ‘Casa’, quer pela coincidência da figura do arquiteto com a do cliente, quer pela possibilidade de materialização de um modo de vivência espacial próprio
A segunda característica é o forte sentido de urbanidade desta Casa. Não se trata da construção de uma moradia construída numa periferia, num lote de dimensão média ou grande, mas sim da edificação de uma Casa numa área central da cidade, com uma intensa vida urbana, num lote estreito e comprido que levanta todo um conjunto de constrangimentos espaciais. Para um edifício a construir neste lote o plano urbanístico em vigor determinava a manutenção dos alinhamentos dos edifícios contíguos, uma cércea máxima inferior à largura da rua, e uma elevada permeabilidade do logradouro. A definição deste volume conduziu a uma organização interna próxima da estruturação interior das habitações típicas do Porto com dois compartimentos iluminados localizados nos dois extremos da Casa e um terceiro compartimento não iluminado posicionado no ‘miolo interior’, remetendo a localização da escada para esse ‘miolo’. Na Casa, o ‘terceiro’ compartimento corresponde: no piso térreo, à biblioteca (aberta para o escritório) e ao sanitário; no primeiro piso, à cozinha (aberta para as duas salas); e no segundo piso, ao pátio exterior.
A terceira característica é uma grande simplicidade de desenho e materiais. A integração deste novo edifício no edificado existente assenta, num primeiro momento, numa articulação volumétrica e, num segundo momento, numa grande simplicidade de desenho das duas fachadas, ao nível da estrutura, da caixilharia e do portão de acesso, reforçada pela utilização de uma única cor. No interior da Casa esta simplicidade manifesta-se: num esquema de organização interna muito semelhante, de piso para piso; numa procura por uma ‘verdade’ construtiva; e, ainda, numa continuidade espacial entre os três pisos, reforçada pelo desenho da circulação vertical. Esta simplicidade é também sublinhada por um leque restrito de materiais em todos os compartimentos, incluindo cozinha e sanitários: paredes e tetos rebocados e pintados à cor branca, pavimentos em vinílico de cor beije, caixilharias e portadas em madeira pintadas ou lacadas à cor branca.
Por fim, a Casa tem uma grande flexibilidade. A repetida utilização de um conjunto de elementos muito simples introduziu uma grande versatilidade na vivência desta Casa: i) em cada vão envidraçado, na fachada da frente e na das traseiras, foram introduzidos dois conjuntos de portadas – um conjunto posicionado entre as cotas 0 e 0.90m, e outro conjunto posicionado entre as cotas 0.90 m e 2.65 m; ii) todos os compartimentos, à exceção dos sanitários, possuem portas de correr que são totalmente recolhidas nas paredes dos compartimentos interiores permitindo uma fluidez absoluta dos espaços.
A Casa da Rua do Lindo Vale afirma-se como uma casa urbana, pertencente ‘aquele’ lugar, materializando um modo de vivência espacial próprio dos seus arquitetos, edificando-se numa grande simplicidade de desenho e de utilização de materiais, qualificando-se através de um elevado rigor construtivo e de uma versatilidade espacial.